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A formação profissional de jovens e a evolução do trabalho

Capacitação da mão de obra mais nova necessita ir além da preparação técnica

Nilton Valentim
06/10/2024 | 08:14
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FOTO: Divulgação


As montadoras de veículos instaladas no Grande ABC descobriram cedo a importância de formar ‘em casa’ a mão de obra necessária para movimentar as suas linhas de produção, bem como a necessidade de qualificar jovens trabalhadores. Volkswagen e Mercedes-Benz, ambas de São Bernardo, possuem unidades do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Profissional) dentro de suas plantas. A iniciativa favorece a operação das empresas, mas também contribui para o desenvolvimento econômico e social das pessoas. São ações extremamente importantes. Entretanto, o surgimento de novas tecnologias e as mudanças na maneira de se trabalhar geram a necessidade de aprimoramento da formação profissional dos jovens.

Em 1957, um ano após se instalar em São Bernardo, a Mercedes abriu a primeira unidade do Senai dentro de uma fábrica na região. Em 67 anos de história, passa de 8.000 o número de pessoas formadas no curso de mecânico de produção de veículos. E muitos deles foram incorporados ao seu quadro de funcionários.

Na Volks, a escola Senai completou 51 anos em maio e, desde 1973, formou cerca de 7.000 estudantes. Dentre eles Douglas Pereira, ex-aluno e hoje vice-presidente de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil e Região América do Sul. “Há 28 anos tive a oportunidade de realizar o sonho de entrar na VW por meio desse programa de aprendizagem. Essa escola representa muito mais do que a formação profissional e técnica para o trabalho. Representa uma transformação de vidas”, afirmou.

A Scania mantém um programa de estágio com 44% de aproveitamento dos participantes. Atualmente, 23% dos funcionários chegaram à empresa como estagiários.

Euzébio Jorge Silveira de Sousa, professor da Strong Business School e autor do livro Juventude, Trabalho e o Subdesenvolvimento, destaca a importância do trabalho desenvolvido pela iniciativa privada, mas ressalta a necessidade de políticas públicas destinadas à formação dos jovens para o mercado de trabalho.

“A capacitação profissional para jovens não pode ser vista como uma opção, mas como uma necessidade urgente e estratégica para assegurar sua inserção no mercado e reduzir as desigualdades sociais. É imprescindível que políticas públicas articulem uma verdadeira sinergia entre o poder público, empresas privadas e instituições educacionais. Cada um desses agentes precisa ter um papel claro: as instituições públicas devem proporcionar uma formação ampla e multidimensional, que desenvolva o pensamento crítico e prepare os jovens para os desafios do mundo moderno. As empresas, por sua vez, precisam ir além e criar programas que desenvolvam habilidades concretas, diretamente relacionadas aos desafios e necessidades reais da organização”, afirma Souza.

MÚLTIPLAS HABILIDADES

O psicólogo e psicanalista Francisco Nogueira defende que, além da capacidade técnica, é necessário o desenvolvimento de outras habilidades para que as pessoas que estão chegando ao mercado de trabalho possam construir suas carreiras. “O programa de capacitação profissional tem de estar alinhado às necessidades dos jovens, das empresas e do mundo hoje. É essencial que considerem a formação voltada não apenas ao aprendizado técnico, mas também às habilidades socioemocionais. Cada vez mais o que diferencia um profissional e impulsiona sua carreira é sua capacidade de gerir suas emoções e lidar com as relações de seu entorno. E isso, que dificilmente é aprendido em casa ou na escola, acaba dependendo de uma formação posterior”, afirma.

“A capacitação profissional de uma nova geração, diferentemente das anteriores, sobretudo na forma de enxergar a relação com o trabalho, é um desafio que deve ser encarado em uma amplitude que vai além da esfera da formação técnica. Jovens que valorizam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal e a sua saúde mental mais do que as gerações anteriores e que dão um outro valor ao trabalho, também são mais ansiosos e deprimidos do que seus colegas mais velhos. O trabalho deve envolver valor e fazer sentido para ter o engajamento e a atenção do jovem, valores nem sempre frequentes no mercado”, completa Nogueira.

CÉREBROS

“Os jovens têm um enorme potencial criativo e inovador, mas esse potencial só será plenamente realizado se forem oferecidas as ferramentas certas, desde uma educação sólida até oportunidades concretas de trabalho. A criação de vagas que utilizem essas habilidades é crucial, promovendo atividades produtivas sofisticadas e capazes de garantir bons salários. Caso contrário, o investimento em qualificação se torna inútil e contribui apenas para uma ‘fuga de cérebros’, em que os jovens migram em busca de melhores oportunidades que não encontram em seu próprio país. Isso não só desperdiça o talento local, mas também compromete o desenvolvimento econômico e social”, diz Souza.

MERCADO

O Cageg (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostra que entre janeiro e agosto foram criadas 30.312 vagas com carteira assinada no Grande ABC, sendo 16.549 ocupadas por pessoas com idade entre 17 e 24 anos.

Segundo o economista Sandro Maskio, a marca se deve a vários fatores. “Os postos de trabalho em atividades de menor complexidade exigem menor experiência e menor qualificação, o que facilita a entrada dos jovens. Além do efeito de rotatividade, que favorece as mudanças de emprego e a busca por contratações a salários menores”, afirma.




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