Curiosidade natural das crianças torna mais fácil a missão de aprender outras línguas
Criança, child (inglês), niño (espanhol), enfant (francês): no planeta, há mais de 7.000 formas de falar a mesma coisa! São 195 países pelo mundo, e os idiomas em cada parte do globo refletem uma riqueza a explorar, seja em comidas, músicas e costumes. E, nesta edição, o Diarinho mostra os benefícios que uma criança bilíngue (falante de duas línguas) ou poliglota (que se comunica em vários idiomas) pode desfrutar em qualquer parte do planeta.
Uma história que tem início nos bebês. Segundo a ciência, os pequeninos de até oito meses entendem fonemas (sons) de diferentes idiomas, até que aos poucos começam a se especializar em uma língua materna – o que torna cada vez mais difícil se comunicar em outras línguas conforme ficam mais velhos. Exemplo disso é como o são-bernardense Omar Massoud, 2 anos, já usa palavras tanto em árabe como em português para pedir a mesma coisa.
A comunicação tem sido intuitiva, por acompanhar os diálogos bilíngues dos pais Mohammad Massoud e Hayat Cheik. O casal veio para o Brasil em fuga de guerras nas regiões de origem – Palestina e Líbano, respectivamente. “O Omar, assim como quando nós éramos pequenos, adora comer no café da manhã zaatar (pasta de tempero comum no Oriente Médio, composta por gergelim, tomilho e sal, normalmente acompanhada de pão e azeite). Para ele não tem diferença falar ‘pão’ ou ‘khubz’ pronúncia em árabe”, explica o pai.
Quando o tema é pão, Lukas Gregório Grivas, 5 anos, destaca um dos lanches mais saborosos do mundo na opinião dele. É o gyros, o churrasco grego, com bastante salada, no pão pita e molho de tzatkizi, preparado com iogurte, pepino e alho. Morador há um ano da ilha de Creta, na Grécia, Lukas nasceu na Austrália, é fã de praias e visitou em dezembro passado os familiares maternos em Santo André, além da amiga Mariana Poleto Zanardi, 5. “Entre o inglês, o português e o grego, o mais difícil em falar ainda é o grego”, contou ele, que estuda em escola com colegas que também falam francês, alemão e japonês fluentemente.
Para Laís Grivas, a mãe do minipoliglota, um dos principais ganhos na rotina infantil que se abre à curiosidade, por meio de idiomas, é a capacidade, observada no filho, de se adaptar rapidamente. “Enquanto existem crianças que precisam de adaptação para viajar e passar um tempo no aeroporto, o Lukas passou a adorar (aeroporto) e querer ser piloto de avião, por exemplo. Vai além da língua, esbarra também na resiliência”, reflete a são-bernardense.
OS MAIS CRESCIDOS
Outra curiosidade das crianças bilíngues e poliglotas, de acordo com Viviane Borges, professora de inglês e diretora da escola Masterpiece, é a capacidade de adquirir fluência de uma forma que o vocabulário não seja esquecido ao longo da vida. “O adulto precisa praticar para não perder. Já para as crianças é algo natural. Aliás, a exposição, por músicas, desenhos e filmes também é uma ótima forma de elas se conectarem ou mergulharem em outros idiomas”, recomenda, ao citar o exemplo de Gabriel Batistini, 10, de São Bernardo, que estuda a língua mais falada do mundo há pelo menos três anos por meio de games. “Falando (inglês) durante as refeições, meus pais me motivaram a estudar e, no próximo mês (fevereiro), quem vai começar será meu irmão”, afiram o garoto.
Também irmãos, Martin e Maya Salgado, de 12 e 7, que mudaram de São Paulo para o Chile, apontam a coragem como um dos principais elementos para aprender novos idiomas durante a infância. Antes de chegarem a Santiago, em 2022, eles não sabiam que o Brasil era o único país da América Latina que não fala a língua espanhola e desconheciam qualquer palavra. “Mudamos de surpresa, por causa do trabalho da mamãe <CF51>(a aeromoça Sabrina)</CF>. E o jeito foi fazer no primeiro mês aqui 30 aulas de espanhol (com um professor de São Bernardo) para nos acostumarmos”, relata Martin, que confessa ter confundido e falado muitas vezes ‘bolo’, quando deveria falar ‘pastel’ na língua dos vizinhos.
“As palavras são parecidas com o português. Algumas iguais. E, por isso, a melhor coisa foi uma amiga da escola, que sabia português, falar comigo só em espanhol”, diz Maya.
“A gente acha que principalmente para o espanhol, assim como para os outros idiomas que as crianças querem aprender, é preciso chegar com confiança. Tem que se forçar a aprender. Só assim você não se perde”, finaliza Martin em tom de consejo (ou melhor, conselho).
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