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O desafio da modernização para pequenas e médias indústria - Parte II
Eduardo Mazurkyewistz
09/03/2025 | 10:00
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No artigo passado, falei sobre como os juros altos dificultam o investimento das pequenas e médias indústrias, tanto pelo custo elevado do dinheiro quanto pelas incertezas do mercado. Afalta de investimentos gera um círculo vicioso: semmodernização, a competitividade cai eaeconomia desacelera ainda mais.

Hoje, quero abordar um tema que, em teoria, deveria ser a solução para esse problema: as linhas de fomento subsidiadas pelo governo. São recursos voltados para inovação, ampliação, aquisição de equipamentos e outras necessidades que ajudariam as empresas brasileiras acrescerem de forma sustentável. O problema? Na prática, esses recursos estão ao alcance de poucos.

Em 2019, a Indústria 4.0 estava no auge das discussões. O ServiçoNacional de Aprendizagem Industrial(SENAI)iniciou um projeto para capacitar companhias na adoção dessas tecnologias e procurou nossa empresa para apresentar uma oportunidade: A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), banco federal de fomento, disponibilizava linhas de crédito subsidiadas para financiar essa transformação. As condições eram atrativas –carência de até48 meses, pagamento em 10anos eTaxaReferencial de -2% ao ano, dependendo do grau de inovação do projeto.

Quando soubemos dessas condições, ficamos entusiasmados. Procuramos a FINEP, que confirmou que a linha de crédito existia e que havia recursos sobrando para projetos alinhados comaIndústria 4.0, especialmente se fossem elaborados em conjunto com o SENAI.

Diante dessa oportunidade, iniciamos uma verdadeira jornada:investimos tempo, dinheiro eenergia, acreditando no potencial do projeto. O plano era sólido, com payback estimado em quatro anos, oque significava que, ao fim da carência, a própria economia gerada pelo projeto cobriria os pagamentos restantes. Tudo fazia sentido.

Mas, então, veio o banho de água fria. Depois de meses de trabalho, descobrimos um detalhe crucial que ninguém mencionou no início: para acessar o crédito, era necessário apresentar garantias reais, como aplicações financeiras, imóveis ou fiança bancária. Máquinas e equipamentos, justamente os itens que seriam adquiridos com o financiamento, não eram aceitos como garantia.

Foi aí que entendemos a dura realidade: esse tipo de fomento, que deveria impulsionar a inovação e o crescimento da pequena e média indústria, acaba sendo acessível apenas para quem já tem patrimônio suficiente para não precisar dele.Ocrédito subsidiado, que poderia transformar o setor produtivo nacional, segue restrito às grandes empresas – enquanto as pequenas e médias continuam enfrentando barreiras, arcando com juros abusivos ou simplesmente ficando para trás.

Acabamos implementando parte do projeto, recorrendo a recursos caros no mercado, o que acaba dificultando o reinvestimento necessário para continuar crescendo. Essa foi a experiência vivenciada por nós e acredito que, para que mudanças reais ocorram, éfundamental que os empresários se organizem e façam suas vozes serem ouvidas de forma mais estruturada e coletiva. São urgentes a revisão e os ajustes das políticas de fomento, tornando-as compatíveis com a realidade de todas as empresas e não apenas das grandes corporações.

A mudança precisa vir de um movimento conjunto, que mostre o impacto dessas falhas no crescimento do Brasil como um todo, e que também coloque os pequenos e médios empresários como protagonistas da transformação econômica do país.




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