O crescimento alarmante no número de atropelamentos fatais nas vias do Grande ABC exige respostas contundentes do poder público. Dados do sistema estadual InfoSiga apontam que, apenas nos três primeiros meses deste ano, metade das mortes no trânsito da região resultou deste tipo de acidente. Em 2023, o índice já era elevado, 39%, e a tendência de agravamento se mantém. O caso mais emblemático dessa tragédia foi o atropelamento de duas jovens, atingidas enquanto atravessavam faixa de pedestres na Avenida Goiás, em São Caetano. Ignorar a responsabilidade estrutural nesse tipo de ocorrência é escamotear um problema que tem raízes profundas na negligência com a segurança viária e no descaso com a vida.
Chamar episódios como esse de “fatalidade”, como fez a defesa do motorista envolvido no atropelamento, é distorcer os fatos e desviar o foco das medidas necessárias. O próprio Código de Trânsito Brasileiro garante a prioridade do pedestre nas vias, mesmo diante de dúvidas sobre o semáforo no momento do impacto. O carro envolvido participava, segundo a polícia, de um racha – prática ilegal, com consequências tipificadas como crime. A perícia revelou uma velocidade tão elevada que os corpos das vítimas foram arremessados a mais de 47 metros. Tais elementos demonstram que houve escolhas conscientes por parte do condutor, tornando inaceitável classificá-las como mero infortúnio. Além de afronta à memória das jovens.
Reduzir os atropelamentos não se faz com discursos, mas com políticas públicas integradas. É necessário intensificar a fiscalização, com uso de radares, câmeras e ações preventivas em locais de alto risco, como a Avenida Goiás. Além disso, campanhas educativas devem ser retomadas com regularidade e voltadas tanto a motoristas quanto aos pedestres. Reforçar o controle sobre modificações ilegais em veículos e punir com rigor os condutores flagrados em disputas de velocidade são medidas que podem inibir comportamentos de risco. As estatísticas mostram que o excesso de velocidade é fator determinante nos acidentes com vítimas. Diante disso, aceitar a letalidade crescente das ruas como algo inevitável é pactuar com a omissão.
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