Quando me chega um comentário a respeito da educação que se pratica em certos países do oriente ou mesmo de outras partes do mundo, sinto um lampejo de inveja, e sou acometido por forte sentimento de frustração. Seja porque aqui, neste vasto reino Tupinambá, tem-se a falta de educação como produto nacional de primeira linha ou porque a brava gente brasileira, o que é ainda mais grave, nem se dá conta de que navegar na contramão da educação é uma característica de quem nunca aprendeu que há outras formas de se tocar a vida. Ainda que atropelar o semelhante com a finalidade única de levar vantagem ou de estar sempre na dianteira em qualquer situação ou embate, lhe seja atitude mais atraente.
A falta de escrúpulos no momento em que se tolhe o direito alheio, é fator comum na personalidade nada afeita às boas maneiras, sobretudo quando esta não se dá conta de que passa dos limites no seu ataque ao irmão que divide consigo este solo e este ar.
Formas mais leves, mais descontraídas, com uma visão mais suave sobre a vida e suas nuances talvez fossem apreciadas se o pensamento de algumas pessoas não estivesse todo ele voltado para o deboche, para o pouco caso com tudo o que remete à inteligência refinada... que o mal gosto resultante da petulância gratuita não poluísse e contaminasse a existência humana como tem feito através dos tempos.
E a mente vazia de conhecimento, até mesmo de pensamento e reflexão acerca de tudo o que vai à sua volta, normalmente se contrapõe ao que é realmente belo e de valor. Ela é atraída, afinal, pelo lado obscuro da existência, porque é cega para as questões cruciais da vida, por se importar somente com as futilidades, porque são elas, afinal, que estão ao seu alcance. São mentes vazias, portanto, incapazes de vislumbrar, por exemplo, um universo cultural, em que a arte é destaque de suprema importância para o desenvolvimento do ser humano.
Não é privilégio canarinho, que fique bem claro, a afinidade nenhuma para com o respeito de uma forma geral. Entretanto, aqui esse aspecto da sociedade soa gritante e fora de controle. Sugere até que a grosseria deve ser idolatrada, tendo em vista ser o pavilhão de uma parcela importante de toda a gente que caminha por este rico solo sujeito aos seus desmandos.
Por certo que a educação, em território infectado pela bactéria da pobreza intelectual, incomoda. Na verdade, ela chega a ser ofensiva, e a pessoa que caminha sob a sua sombra normalmente é tida como um adversário, passível, portanto, de desdém e de insultos por aquele que a vê com perturbação por não compreender as suas palavras e os seus gestos.
O agressor, não raro, desconhece o motivo pelo qual é avesso à opinião do outro, ou mesmo à sua presença. Não lhe foi ensinado, desde que começou a engatinhar e a ensaiar as primeiras palavras, que começara a viver em sociedade e que, por isso, deveria se ater ao espaço e à opinião do outro, como forma de se construir um mundo melhor, em que todos têm deveres e também o direito de ir e vir e de se expressar, livres da obsessiva ideia de sempre vencer no grito.
Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.
É professor e autor do blog cafeecronicas.com
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